segunda-feira, 8 de abril de 2024

A SALA DE ESTAR

 Quando meu pai resolveu fazer uma casa nova de madeira de araucária eu tinha seis anos de idade.

Um.senhor já conhecido da família, carpinteiro, chamado José Dal Pra , também havia migrado de Nova Bassano para Ciríaco.
Era prático em construir casas de madeira , bem espaçosas foi o que capitaneou a construção.
Meu pai e meus primos filhos do tio José Seganfredo também ajudaram e assim a casa nova ficou pronta em poucos meses.
Antes morávamos em uma casa antiga, menor, sem pintura ali a poucos metros dessa.
A casa nova tinha 4 quartos , uma cozinha enorme e duas salas grandes.
Esta próxima à cozinha era bem espaçosa. A outra sala servia para guardar mantimentos como sacos de farinha de trigo , milho e arroz.
Naquela época, década de 1950 a nossa família produzia todos os alimentos necessários para um ano, os grãos, e vendíamos o excedente para o próprio dono dos moinhos.
A agricultura era rudimentar até os anos 70, quando começou a mecanização da lavoura e também um tímido começo de industrialização, como tecidos, sapatos e outros bens de consumo.
A gente ia no comércio da dona Amélia e do sr.Joaquim Ribeiro Neto levava duas galinhas e trocava por açúcar ou sal.Querozene para os lampeões também.
Tinha também o comércio do Bordin e do Campana, mas ali tinha menos produtos.
Dona Amélia era faceira, sorridente, atendia o armazém.O sr.Joaquim Ribeiro Neto era descendente da família Ribeiro, tinham muitas terras de Campo e Mato. Criavam gado.Ele, especificamente explorava dois pinhais grandes, tinha serraria, ali pertinho de onde é agora Muliterno.
Esses fazendeiros eram influentes na política, mas os Ribeiro e os Vieira eram inimigos políticos. Assim era o Rio Grande do Sul na época.
Ao longo dos anos a casa foi sendo mobiliada e pintada por dentro e por fora.Foram colocadas janelas de vidro produzidas pela família Oro.
Na cozinha a gente ficava no inverno, nos dias de chuva, comendo pinhão, tomando mate e recebendo os primos e tios.
Nos dias de chuva a gente não ia trabalhar na roça, só tirava o leite das vacas e ficava dentro de casa.Era como um dia de feriado.
Na sala de estar ficava o rádio de pilhas onde ouvíamos novelas, música e as notícias, inclusive as políticas.
Acompanhamos pelo rádio a Campanha da Legalidade, capitaneada por Leonel de Moura Brizola e também a primeira ida do Homem à lua.
Leonel Brizola era então governador do Rio Grande do Sul e fazia discursos acalorados.Ao fundo ouvíamos uma multidão gritando " paredon, paredon!
Bem, digamos que ele conseguiu adiar o golpe militar de 1964.
A sala de estar era aconchegante e bonita.Meu pai também reunia os vizinhos e parentes para jogar quatrilho.

A Gema Seganfredo trazia as filhas para meus pais ver.Eles eram muito próximos dessa família, a Gema e o Armelindo Alievi.
O tio Achylles e tia Hermelinda.Elvira e José Seganfredo.Elvira era era uma das irmãs maiores de minha mãe e era sua conselheira.
Tinha também o Carlos Marssaro e a Erminia Didoné.
Vinham fazer filó , mais no tempo da vindima, tomar vinho doce...
Além da mesa de jantar tinha o rádio e o nicho de Nossa Senhora de Fátima, onde todas as noites os pais nos reuniam para rezar o terço.
Na sala de estar meu pai recebia os vizinhos, homens criadores de gado, fazendeiros que vinham beber vinho e comprar uva.Minha mãe também recebia as mulheres do campo que vinham comer e comprar uvas.Ana Maria Ribeiro Dihel e sua afilhada chamada Neneca.Vinham todos montados em belos cavalos.
Na sala de estar passamos bons e maus momentos.
Ali também foram veladas minha avó Catterina e minha mãe.
Ali minha irmã Ely sentava para receber o namorado.
Era especial a sala de estar.
Por muitos anos recebemos nossos primos pois a medida que o tempo foi passando também nós e alguns primos nos transferimos para outras cidades.
Nossa prima Ires com o Taceli e os filhos vinham nos visitar e era uma alegria.
Mas como tudo passa agora a sala de estar existe só na minha memória, mas é inspiradora...
Ah...esqueci de contar...
Disseram minha mãe e meu pai que no dia de Todos os Santos, véspera de finados ouviram alguns passos na sala...era o passo do meu falecido avô Celeste Ferri, identificado pelo jeito de caminhar arrastando os pés...
Outro dia lembrarei mais coisas para contar.
Assim passei uma parte de minha vida.

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