terça-feira, 3 de agosto de 2010

A ITALO BRASILEIRA QUE SOU

recebi esta placa comemorativa em setembro de 2011
Etnias


A italiana que está em mim

Ana Maria Ferri Seganfreddo

pesquisadora, Passo Fundo - RS



Sou filha de Cornelio Seganfreddo e †Luisa Ferri, filhos de vênetos e cremoneses. Nasci na multiétnica Ciríaco (RS), a 80 km de Passo Fundo. Somos sete irmãos e uma menina mestiça adotada aos nove anos. Em casa, os pais e a nonna Caterina Viera, de Mason Vicentino, VI, falavam talian. Nossa vida era a de italianos agricultores: lavrar, tirar leite, cozinhar pão em forno de barro, confeccionar nossas roupas... Nossa leitura era o Correio Riograndense e o Nanetto Pipetta, este nos fazia rir, pois temos todos algo do Nanetto. A vindima com os tios e primos era uma festa, com filós, canções e histórias.

Aos 8 anos, eu e meu irmão gêmeo, Ary José, nos matriculamos em uma “brizoleta”, escolinha que atendia tanto os descendentes de italianos, na maioria vindos de Nova Bassano, quanto os brasileiros do campo. Como pouco falávamos o português, no início ficamos ouvindo, depois começamos a falar mais, mas nosso sotaque italiano fazia rir.

Em casa, tínhamos um altarzinho com N. Srª de Fátima, diante do qual rezávamos o terço todas as noites - eu e os irmãozinhos achávamos extenso demais, e ficávamos juntos para rir. Meus pais fingiam de não ver, porque o importante era ajoelharmos diante de Deus.

Aos 17 anos, saí da roça e fui a Passo Fundo estudar e trabalhar. Formei-me em Ciências Exatas. Integrei a Juventude Franciscana (Jufra) até os 25 anos, o que me deu boa formação humana e cristã. Preocupada com as desigualdades sociais, ajudei a fundar o Partido Socialista Brasileiro em Passo Fundo, do qual fui secretária geral. Era época de repressão velada. Embora ameaçados, meus companheiros e eu nunca deixamos de participar em manifestações públicas, empunhando a bandeira vermelha, e de acompanhar os sem-terra. Eu adorava contestar! Na empresa onde eu trabalhava não sofri retaliações, pois diziam:

– Ela é assim porque é italiana.

Senti, então, que os italianos temos algo diferente das demais etnias, não usamos máscaras, contestamos, rimos, choramos, rezamos e blasfemamos... sem negar nossas origens! Esta é a italiana que está em mim, da qual gosto muito.

O Pe. Antônio Seganfreddo, que acompanhou os imigrantes, tem agora um parente padre com o mesmo nome, que estudou em Roma e, ao buscar nossas origens, encontrou uma família de descendentes do único de quatro irmãos que ficou na Itália. Outro parente, Henrique Seganfreddo, foi à Itália e deu meu e-mail a essa família, e, surpresa, logo recebi um e-mail:

– Saluti d’Italia. Do cugino Alessandro.

Desde então nos correspondemos e estamos refazendo a história da família Seganfreddo no Brasil e na Itália. É gostoso reatar amizades com a Itália, mas não troco o Brasil por nada! E com o meu jeito italiano de ser, meio pazzo, “se cair levanta”, continuarei até o fim de minha vida marcando posição na Igreja, na política e na educação.


NO Brasil das multietnias  fazemos uma brincadeira uns com os outros assim como: voce é um alemão do Brasil ou é um alemão da Alemanha? e assim com outras origens, como: voce é um italiano de Caxias do Sul ou é um italiano da Itália? e  voce é um  polones do Brasil ou é um polones da Polonia? Esta é uma brincadeira entre os brasileiros de origem europeia, pois muitos ainda conservamos o sotaque dos países de origem de nossos antepassados, o que vai já quase desaparecendo depois da quarta geração.Muitas vezes nos confundem com estrangeiros quando estamos em locais turisticos do Nordeste ou do Rio de Janeiro, quando os guias turisticos nos abordam para saber se precisamos de algum serviço....o resultado são risos de ambas as partes. apesar do sotaque o "brasileirismo" está em nós muito fortemente, o nosso sotaque não nos envergonha,  é sinal de que somos bilingues, mesmo que seja um dialeto, mas o talian já é considerado um patrimonio  histórico do Rio Grande do Sul e tramita uma lei no congresso Nacional para oficializa-lo como "lingua veneto-brasileira, já que é falado por pelo menos  2.500.000 mil pessoas e não é nenhum dialeto igual aos da Italia, mas sim a mistura dos diversos dialetos italianos   mesclado com palavras brasileiras, espanholas,indígenas, afro-  . mas muito nos orgulham nossas origens, a coragem dos nossos antepassados. e o Brasil é o nosso  País.  

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