sexta-feira, 12 de abril de 2024

MINHA MÃE E SUAS AMIGAS BRASILEIRAS

 Minha mãe e suas amigas " brasileiras.

. Tempos passados quem era descendente de imigrante europeu era denominado assim " italiana.o alemã.ão..na verdade quase todos já eram brasileiros.
Minha mãe era filha de imigrantes italianos mas ela e seus irmãos e irmãs eram todos brasileiros.
Em 1923 meu avô materno Celeste Ferri, italiano, saiu com toda família de Nova Bassano para ir morar em Ciríaco onde ainda havia terra de cultivo à venda. Ali os primeiros povoadores eram de origem lusa e havia também algumas famílias de caboclos por ali e também criadores de gado que desde 1850 chegaram nessa região ainda pertencente a Passo Fundo.
Se instalaram ali,começaram cultivar a terra .Ainda nesta época havia no Rio Grande do Sul disputas políticas e quando o clima esquentava de um e de outro lado formavam corpos provisórios com o objetivo de disputar o poder.Nestes períodos um dos colonos ficava observando o movimento e ao ver um piquete chegando dava um sinal e os rapazes filhos de imigrantes se escondiam no mato para não serem agregados aos grupos.
Independente da instabilidade política como minha mãe chegou a Ciríaco com quatro anos começou a conviver com as meninas "brasileiras".Os descendentes de italianos não se metiam nas disputas políticas porque nem entendiam o objetivo destes grupos e isto facilitou a convivência.
Minha mãe aprendeu falar o português quase perfeito com algumas erros porém, normal para quem até chegar nessa nova terra só falava talian.
Algumas amigas de minha mãe eu conheci.As mais próximas eram as ",Vieira" filhas de Otávio Vieira, que era uma autoridade no lugar.
Não havia polícia nem civil nem militar ali.
Brincando as meninas batizaram as bonecas por isso eram comadres, mesmo depois de adultas.
As Vieira se tornaram donas de casa ou professoras.
Minha mãe sempre foi agricultora.
Era uma troca de conhecimento.
Meu pai tinha um grande parreiral.Na época da vindima era bem apropriada para elas visitarem minha mãe.
Ficavam horas falando de suas famílias, do tempo que brincavam de casinha, o assunto sempre lembrado era o motivo pelo qual eram comadres: o batismo das bonecas.
De uma e de outra parte havia algum erro de linguagem.Minha tia Argene para elas era Eugenia.
Argene não era nome conhecido.Minha mãe falava " acarece" ao invés de " carece" , meu pai falava " unze" ao invés de " onze" .
Contou o Martin que meu pai foi comprar semente de soja.Quantos sacos? Respondeu " unze"
Aquela época ainda o soja não tinha mercado, plantava_ se para alimentar o gado.Veio um saco só...depois teve de ir corrigir o pedido....
O tempo foi passando.
Minha mãe faleceu bem antes das amigas.
A despedida foi muito comovente.
Um domingo uma das amigas de mamãe que era professora, já idosa, veio passar o domingo conosco aqui em Passo Fundo.
Contou_ nos nesse dia toda a vida dela.O sacrifício que fez para tornar-se professora. Foi a última visita dela.Logo depois faleceu. Fomos eu e minha irmã nos despedirmos dela.
Pouco antes de sair o cortejo fúnebre uma sobrinha leu a carta de despedida que ela mesma havia escrito.A dona Eponina Vieira.A " Mosa" de Formosa!
Minha mãe me deixou esse legado.A verdadeira amizade não é exigente, não é orgulhosa, não guarda rancor no coração. A verdadeira amizade é feita de vida e de amor.







terça-feira, 9 de abril de 2024

A CIMBRA

 Depois que tivemos conhecimento que "Seganfredo" é um sobrenome de origem cimbra , povo que saiu da Bavária e foi morar nas Sete Comunas de Vicenza fiquei um tanto surpresa mas também encantada buscando dentre meus familiares alguém com características deste povo e surpresa! Os olhos pequenos e azuis de Lorena, o gênio determinado e indomável....é ela...pensei...só ela...tem as características daquele povo guerreiro.

Ela vai á frente de qualquer empreendimento familiar, bem tribal cuida de todos nós.
Mas ter uma cimbra em casa as vezes não é fácil.
Levanta cedo, bota roupa pra lavar ANTES DO CAFÉ da manhã...aí que tortura ...eu que sou a " tia Marieta" da família...devagar, porque já tive pressa...
Aí faz pouco , as tarefas excessivas resultaram em um tendão do biceps do braço direito rompido.
Cirurgia.
Tudo certo.
Pensei" agora não vou mais ouvir tanquinho bater roupa antes do café ....
Aí ...aí...já no primeiro dia com a nossa cimbra em repouso cuidada pela Alvanir nossa irmã descobri que tinha muitas tarefas ao meu encargo agora...
Infelizmente...já estou correndo entre o tanquinho e o café da manhã...
E as compras?.O que falta em casa hoje?
Estou vendo roupas já lavadas esperando para ser dobradas e guardadas...
O remédio do Mustafá?
Tem ração?
Ir ao Banco?
Cozinha?
Contando os dias para a nossa cimbra voltar à ativa....
Aí aí...que bom ter uma cimbra na família.
É essa aí da foto à minha direita!

segunda-feira, 8 de abril de 2024

DIAS DE CHUVA

 Os dias de chuva me trazem à lembrança boas recordações

Como morávamos na roça somente iamos de manhã tirar leite das vacas, depois o dia se dividia entre a cozinha e a receber visitas dos vizinhos, principalmente tios e primos.
Não raro vinha também meu tio Achylles Seganfredo, ele era uma figura imponente, sempre com um largo sorriso.
Nossos primos da descendência do tio José Seganfredo também vinham,
A chuva era como um dia de folga, um feriado, só não tinha reza,
Contando causos e rindo, se fosse inverno a gente botava pinhão para assar na chapa do fogão a lenha,
Conversar e rir... que coisas simples e boas, que hoje não se costuma mais fazer.
Os dias de chuva são feitos agora de solidão! 

A SALA DE ESTAR

 Quando meu pai resolveu fazer uma casa nova de madeira de araucária eu tinha seis anos de idade.

Um.senhor já conhecido da família, carpinteiro, chamado José Dal Pra , também havia migrado de Nova Bassano para Ciríaco.
Era prático em construir casas de madeira , bem espaçosas foi o que capitaneou a construção.
Meu pai e meus primos filhos do tio José Seganfredo também ajudaram e assim a casa nova ficou pronta em poucos meses.
Antes morávamos em uma casa antiga, menor, sem pintura ali a poucos metros dessa.
A casa nova tinha 4 quartos , uma cozinha enorme e duas salas grandes.
Esta próxima à cozinha era bem espaçosa. A outra sala servia para guardar mantimentos como sacos de farinha de trigo , milho e arroz.
Naquela época, década de 1950 a nossa família produzia todos os alimentos necessários para um ano, os grãos, e vendíamos o excedente para o próprio dono dos moinhos.
A agricultura era rudimentar até os anos 70, quando começou a mecanização da lavoura e também um tímido começo de industrialização, como tecidos, sapatos e outros bens de consumo.
A gente ia no comércio da dona Amélia e do sr.Joaquim Ribeiro Neto levava duas galinhas e trocava por açúcar ou sal.Querozene para os lampeões também.
Tinha também o comércio do Bordin e do Campana, mas ali tinha menos produtos.
Dona Amélia era faceira, sorridente, atendia o armazém.O sr.Joaquim Ribeiro Neto era descendente da família Ribeiro, tinham muitas terras de Campo e Mato. Criavam gado.Ele, especificamente explorava dois pinhais grandes, tinha serraria, ali pertinho de onde é agora Muliterno.
Esses fazendeiros eram influentes na política, mas os Ribeiro e os Vieira eram inimigos políticos. Assim era o Rio Grande do Sul na época.
Ao longo dos anos a casa foi sendo mobiliada e pintada por dentro e por fora.Foram colocadas janelas de vidro produzidas pela família Oro.
Na cozinha a gente ficava no inverno, nos dias de chuva, comendo pinhão, tomando mate e recebendo os primos e tios.
Nos dias de chuva a gente não ia trabalhar na roça, só tirava o leite das vacas e ficava dentro de casa.Era como um dia de feriado.
Na sala de estar ficava o rádio de pilhas onde ouvíamos novelas, música e as notícias, inclusive as políticas.
Acompanhamos pelo rádio a Campanha da Legalidade, capitaneada por Leonel de Moura Brizola e também a primeira ida do Homem à lua.
Leonel Brizola era então governador do Rio Grande do Sul e fazia discursos acalorados.Ao fundo ouvíamos uma multidão gritando " paredon, paredon!
Bem, digamos que ele conseguiu adiar o golpe militar de 1964.
A sala de estar era aconchegante e bonita.Meu pai também reunia os vizinhos e parentes para jogar quatrilho.

A Gema Seganfredo trazia as filhas para meus pais ver.Eles eram muito próximos dessa família, a Gema e o Armelindo Alievi.
O tio Achylles e tia Hermelinda.Elvira e José Seganfredo.Elvira era era uma das irmãs maiores de minha mãe e era sua conselheira.
Tinha também o Carlos Marssaro e a Erminia Didoné.
Vinham fazer filó , mais no tempo da vindima, tomar vinho doce...
Além da mesa de jantar tinha o rádio e o nicho de Nossa Senhora de Fátima, onde todas as noites os pais nos reuniam para rezar o terço.
Na sala de estar meu pai recebia os vizinhos, homens criadores de gado, fazendeiros que vinham beber vinho e comprar uva.Minha mãe também recebia as mulheres do campo que vinham comer e comprar uvas.Ana Maria Ribeiro Dihel e sua afilhada chamada Neneca.Vinham todos montados em belos cavalos.
Na sala de estar passamos bons e maus momentos.
Ali também foram veladas minha avó Catterina e minha mãe.
Ali minha irmã Ely sentava para receber o namorado.
Era especial a sala de estar.
Por muitos anos recebemos nossos primos pois a medida que o tempo foi passando também nós e alguns primos nos transferimos para outras cidades.
Nossa prima Ires com o Taceli e os filhos vinham nos visitar e era uma alegria.
Mas como tudo passa agora a sala de estar existe só na minha memória, mas é inspiradora...
Ah...esqueci de contar...
Disseram minha mãe e meu pai que no dia de Todos os Santos, véspera de finados ouviram alguns passos na sala...era o passo do meu falecido avô Celeste Ferri, identificado pelo jeito de caminhar arrastando os pés...
Outro dia lembrarei mais coisas para contar.
Assim passei uma parte de minha vida.

POR DO SOL

 O POR DO SOL

Sul do Brasil.
Estou eu agora morando em uma cidade de pouco mais de 200 mil habitantes. A casa é confortável. Chegou o Outono. No outono o sol se põe logo depois das 17 horas. Vou contando os dias em que vai chegar o inverno frio.....No sul do Brasil os invernos são frios, às vezes sopra um vento forte, cortante, passa assoviando, cortando a carne, os ossos do vivente que caminha na rua.
Não sei por que, mas os invernos sempre me remetem para o passado, quer seja o passado mais recente ou o mais remoto em que nós sentávamos ao redor da nonna Catterina e ouvíamos “ as histórias da Itália”. Nos meus seis anos de idade Itália era um lugar imaginário onde ela dizia ter nascido.Entre Ciríaco e a Itália havia o mar...o mar que eu ainda não conhecera . Mas como chegara ali , se estava ali conosco, com a nossa família no Rio Grande do Sul, mais precisamente em Ciríaco? Enquanto ela contava nós íamos entrando em uma espécie de transe, as vilas, as pessoas, o navio, o mar, os tios avós os bisavós iam se formando na nossa imaginação, e, talvez por causa do sangue que corria nas nossas veias, os personagens iam tomando forma e se sentavam ali conosco. Volta e meia um deles tomava o lugar de Catterina, vestida com seus trajes de camponesa italiana e iam eles mesmos contando suas histórias. 




domingo, 7 de abril de 2024

O VENTO

 Poemeu sobre o vento

O vento se apresenta
Com diversas formas de agir
Ora me agrada com uma brisa leve e trás o perfume das rosas
Ora se enfurece e sopra forte
Se cuide de mim...se cuide de mim...
Avisa
Posso ser bom mas também posso ser mau...e sacode os galhos da árvore prá cá e pra lá.. mostrando estar brabo...
Hoje o vento escolheu me dar um susto
Espero que ele se acalme
Mando a ele um pedido de desculpas
Me poupe...me poupe...
O vento até se parece
Com as pessoas...

VIAGEM ASTRAL

 

 
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A CHALEIRA DE FERRO E O PESADÊLO
. Idade Média: Durante a Idade Média, entre os séculos V e XV, as panelas de ferro se tornaram populares na Europa. Eram frequentemente usadas em fogueiras abertas ou suspensas sobre elas. As panelas eram valiosas e passavam de geração em geração
Não sei como foi, mas caí em um sono profundo tão cansada eu estava. Havia voltado do hospital depois de um dia inteiro acompanhando uma pequena cirurgia de minha irmã Lorena, a qual eu chamo de A Cimbra por ter os traços do nosso povo de origem, os Cimbros da Bavária que migraram para o Planalto de Vicenza.
Ela operou um braço, cirurgia simples, mas cirurgia é sempre cirurgia....
De repente, no sonho me vi ao redor de uma fogueira, cozinhando em uma panela de ferro, cujos sustentáculos eram correntes também de ferro.
Eu havia recolhido muita lenha, o fogo aquecia o lugar frio em uma montanha muito linda em que eu vivia com minha familia, pai, mãe e oito irmãos que haviam saído para trabalhar na lavoura.
Uma mulher franzina estava sentada ali no canto, sobre um tronco de árvore, era minha avó.
Minha avó desfiava lã de ovelha para fazer roupas no rústico tear.
Fiquei praticamente a noite inteira dentro do sonho, era bem real...
Cansada de cozinhar e mexer a tal panela de ferro.
Mas a comida era muito boa. Uma sopa de feijão com batatas era o que tínhamos neste dia... Esperava eu que meu pai trouxesse talvez um coelho, então teríamos carne para comer.
Tirada a panela de ferro das correntes peguei uma chaleira, também de ferro e tentei pendurá-la... mas qual...pesava uma tonelada...
Fiquei nesta aflição, tentando levantar a chaleira.... mas qual... era pesada demais para mim...
Ah...então creio que meu subconsciente me trouxe para o tempo presente...Panelas de alumínio, leves, utensílios de cozinha práticos fogões a gás e elétricos... muito bom para uma cozinheira.
Fui acordando... Hora de voltar para o hospital para buscar minha irmã que lá ficou uma noite,
Minha irmã Alva já estava de pé´... Ah... desci as escadas até a cozinha.
-"-Vamos tomar um café? Falou Alva.
Ah... olhei para o fogão!
Lá estava o motivo do pesadelo!
A chaleira de ferro de minha avó Pierina, que tem mais de 100 anos!
Vivi por umas horas na pele de minhas avós que cozinhavam em panelas de ferro penduradas em correntes sobre o fogo... e as chaleiras faziam parte dos utensilios diários utilizados por minhas antepassadas, avós, bisavós, trisavós....
chaleira de ferro da nonna Pierina Cecchin

Pierina Cecchin e Celeste Giovanni Ferri

MINHA MÃE E SUAS AMIGAS BRASILEIRAS

  Minha mãe e suas amigas " brasileiras. . Tempos passados quem era descendente de imigrante europeu era denominado assim " italia...